Blog do Zéro - Só por hoje - UOL Blog

Postei uma pequena história no Facebook, que acabou me trazendo lembranças e um tema sobre o qual vale a pena uma reflexão. É a seguinte:
         Semana passada, estava descendo as escadas de um hospital carregado de exames e quando cheguei ao saguão lotado de pessoas, achei que a escada tinha terminado mas ainda tinha um degrau. Meu pé falseou, levei um baita tombo, caí com tudo, os exames se esparramaram, umas cinquenta pessoas olhando para mim, vários correndo em minha direção. Ajeitei melhor os braços no chão, deitei a cabeça, dei uma relaxada e, do nada,  comecei a rir, não tinha nada doendo. O guarda e um jovem vieram, levantaram-me e me acomodaram numa cadeira, bastante preocupados.Arrisquei  uma  olhada em volta, todo mundo olhando para mim, alguns fazendo comentários, outros penalizados, dois adolescentes achando graça. Você consegue acreditar que eu não senti vergonha? Nem um pingo, posso garantir-lhe.  
Há anos tenho me empenhado em aprender a rir de mim mesmo, a baixar a bola, e boa parte do enorme peso do imenso ego que eu tinha foi aliviado. Rir de mim mesmo é uma das melhores coisas que  vocês me ensinaram.
Eu era um poço de orgulho. A tal ponto que o psiquiatra de uma clínica, ao me dar alta de uma internação antecipada, me disse, acho que contrariando todos os seus juramentos: “Sr. José, você nunca vai conseguir deixar o álcool. Você é muito orgulhoso”.
Lembro-me, aos doze anos, de estar andando na rua lendo o jornal A Gazeta Esportiva, toda aberta na minha frente, até que dei de frente e abracei um poste, amassando todo o jornal e o meu rosto também. Fiquei com tanta vergonha que fiquei meses sem passar por aquela rua.
Outra ocasião, ainda adolescente, passando em frente de um açougue bem movimentado, tinha uma nota de dinheiro no chão. Abaixei-me para pegá-la, a nota fugiu de mim para dentro do açougue. Estava amarrada com um barbante. O pessoal lá dentro e uns da rua quase morreram de rir, e eu lá no meio, roxo. Passei muito tempo planejando o assassinato do açougueiro, seus filhos e todos os seus descendentes. Hoje eu tenho certeza de que teria rido junto.
Embora eu tivesse tido uma pesada recaída de quatro meses no Piauí, meu verdadeiro despertar do primeiro passo aconteceu no Rio de Janeiro, levado que fui à reuniões pelo meu mais irmão que amigo Catolé, já meio em desespero de causa. Um dia, conversávamos e eu, do alto de minha vaidade, contava para ele que eu havia me transformado num verdadeiro cowboy no começo de minha carreira no Paraná, tinha até um revólver, “eu precisava me impor lá naquele sertão”, comentei. O Catolé virou-se para mim e perguntou: “E Zé, você já usava óculos?”. Comecei a imaginar as cenas de então comigo de óculos e não ulos! Rimos muito da situação. Pouco depois ele chegou para mim e disse: “Zé, eu o conheço há muitos anos e nunca tinha visto você rir de si mesmo. Esse é o grande fio da meada, agarre-se nisso que  você sai do buraco”.
Num livro de Al-Anon, “Coragem para mudar”, encontrei a seguinte frase: “Você consegui segurar o riso, cara, um cowboy de óccresce no dia em que der a primeira risada verdadeira – de si mesmo.”

Comentários