O processo de adoecimento tanto do dependente quanto de seus familiares segue uma trajetória em que as acusações pelos mútuos fracassos e dificuldades tornam-se a única possibilidade de se comunicarem. Percebe-se, assim, o quanto é difícil e complicado a manutenção de um ambiente familiar minimamente satisfatório, havendo, nestes casos, cenas dolorosas quando não com finais dramáticos. | |
---|---|
Quando alguém da família encontra-se doente, ocorre um movimento familiar onde os demais membros se voltam para este doente e procuram minorar o seu sofrimento, aliviar suas dores e assumir seus compromissos. No caso da dependência química e alcoólica não deve ser diferente. Até porque a dependência é vista pela Organização Mundial de Saúde como uma doença crônica, progressiva e fatal, sendo a única saída o controle, o não fazer o uso da droga (seja ela lícita ou ilícita). | |
Então há uma questão crucial: o dependente não consegue controlar o uso da droga. E é ai que começam as grandes desavenças familiares. Todos se comprometem a ajudar o dependente. Menos ele. Com isso, a família pára de viver seu dia a dia, os membros da família passam a não ter tempo de cuidarem de si próprios para atender às necessidades e os “buracos” deixados pelo dependente. Mais do que isto, adoecem também. É quando a vida familiar fica incontrolável e a culpa recai por conta da dependência de um de seus membros que se estabelece a co-dependência. | |
Eis alguns passos da co-dependência: | |
1) O indivíduo perde o controle do uso e passar a ter como referencia central de sua vida a droga (seja ela licita ou ilícita). A família se une para controlar o uso da droga e dedica um tempo muito pequeno para as atividades rotineiras familiares, pois com o dependente sempre em “crise” a família tem que preencher os seus espaços. | |
2) O individuo não consegue ficar sem a droga. O co-dependente de tão nervoso, aflito, desesperançado, angustiado passa a desenvolver sintomas físicos e para isto necessita de antidepressivos, antiácidos, analgésicos, etc. | |
3) O individuo nega a dependência e a oculta, omitindo ou não falando sobre isto. A família procura esconder de todos esta “doença familiar” e o assunto vira tabu. Não falam ou omitem dados relacionados ao uso. A mulher dá como desculpa da ausência no local de trabalho do marido que está com ressaca em casa, “uma terrível dor de dente” que ele foi acometido. | |
4) O dependente passa a ter um isolamento social e muda de local de consumo várias vezes. A família mantém um isolamento social pelo receio de situações constrangedoras. Mudança de moradia, devido ao ambiente hostil e hostilizante. | |
5) O dependente passa a ter sérios problemas legais (brigas, agressões, acidentes, prisões).A família apresenta problemas legais que culminam em vitimização, abusos, agressões e despejos, sendo necessário recorrer à justiça. | |
6) O dependente passa a ter problemas físicos de acordo com o estágio em que se encontra na dependência. Dependendo do estágio, é necessária a internação para tratamento de quadros graves. O co-dependente apresenta problemas de úlceras, insônia, pressão alta, diabetes entre outros. É comum ocorrerem casos de internação do co-dependente para tratamento de algum mal súbito decorrente dos problemas físicos no período de internação ou agravamento do quadro físico do dependente. | |
Tem-se assim, rapidamente, um perfil desta doença que atinge a família e que se não tratada também poderá levar a uma desagregação e colapso familiar. A co-dependência é tão dolorosa quanto a dependência e ambas necessitam de um apoio, respeito e tratamento. | |
Fonte: Revista Droga & Família, ano III nº15 |
Comentários